Não somos “de uma nota só”. Não podemos ser.
Jobim é uma excepção e não a regra.
Como humanos, precisamos de todas as notas, de todas as cores, de todas as emoções. Só conhecemos a felicidade por termos experienciado a tristeza e a tristeza porque já sentimos a felicidade.
Crescemos a tirar fotografias nos eventos comemorativos, nos dias marcantes, nas viagens, nos dias de sol e nos dias de felicidade extraordinária. Aprendemos, sem nos ser ensinado, que há momentos que merecem ser fotografados e outros que não. Aprendemos a separar os dias “normais” em que a câmara fica na estante, ou o telemóvel é destinado a selfies nos dias em que nos sentimos mais bonitos ou que o nosso filho faz algo engraçado.
Henry Cartier Bresson dizia que só tínhamos que viver e a vida nos daria fotografias. A fotografia documental de família acredita exactamente nisso. Que a vida sem poses, sem máscaras ou encenações é toda a matéria prima necessária para criar as melhores e mais especiais fotografias de nós mesmos.
Pequenos detalhes, momentos, gestos ou interacções são documentados, na procura de realidade e a autenticidade. É nas rotinas, nos momentos de euforia, nos momentos de tédio ou de azáfama, que se encontram os elementos que compõem quem somos. Se estamos atentos à câmara ou a pensar no nosso cabelo, roupa ou sorriso, o momento genuíno (e fugaz) desaparece.
A cada sessão o desafio com que um fotógrafo documental de família se depara é o de conseguir fazer justiça a todas as identidades e personalidades distintas que coexistem em cada família… Cada família tem as suas cumplicidades e a sua linguagem de amor, ou o seu modo de amar.
No final, no momento em que uma família visualiza pela primeira vez as fotos da sessão, tudo se resume ao que sente: o vosso “samba” tem todas as notas?